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Tudo é Vida, Tudo é História

  • Foto do escritor: André Cally
    André Cally
  • 18 de out.
  • 3 min de leitura

por André Cally,



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Certa vez, em meio a uma sessão, uma paciente me disse com os olhos cansados: “Eu queria conseguir separar minha vida pessoal da profissional. Uma sempre atrapalha a outra. ”Ela falava como quem tenta administrar dois mundos distintos, sem perceber que ambos nascem do mesmo centro: ela mesma. Ficamos em silêncio por alguns instantes. Então, perguntei com delicadeza: “E se o problema não for a interferência entre os dois, mas a tentativa de separá-los?”


Essa é uma das maiores ilusões do tempo moderno: acreditar que podemos fragmentar a existência. De um lado, o indivíduo produtivo — que trabalha, cumpre metas e desempenha papéis sociais. Do outro, o ser humano íntimo — que sente, ama, sofre, busca afeto e sentido. Mas o que a psicanálise nos ensina é que não existe essa divisão. O inconsciente é contínuo. A vida é uma só. E o sujeito, com toda a sua complexidade, é o mesmo em todos os lugares.


O “eu profissional” é atravessado pelo “eu pessoal” a todo instante. As inseguranças que surgem nas reuniões muitas vezes nascem de medos antigos, da infância, de lembranças de não sermos ouvidos .A forma como lidamos com chefes, colegas e clientes reflete a maneira como aprendemos, lá atrás, a lidar com figuras de autoridade e reconhecimento. Quando uma meta não é alcançada, o que dói não é apenas o resultado, mas a sensação de insuficiência que ela desperta. E, da mesma forma, quando algo se desajusta em casa, o corpo e a mente levam esse peso para o ambiente de trabalho — porque somos inteiros, e a dor não respeita fronteiras criadas pela razão.


A vida não se divide entre pessoal e profissional. Ela acontece em movimento contínuo, em uma narrativa que se escreve todos os dias — sem capítulos separados, sem interrupções .Cada gesto, cada escolha, cada palavra é parte de uma mesma história. O trabalho, quando bem compreendido, não é um espaço oposto à vida pessoal, mas uma extensão dela. É também um cenário onde expressamos o que somos, e onde o inconsciente encontra novas formas de se manifestar.


Ter um propósito de vida, portanto, não significa escolher uma profissão idealizada ou seguir um caminho “correto”. Significa encontrar coerência entre o que se faz e o que se é. Significa compreender que o sentido da vida não está em uma função específica, mas na forma como nos relacionamos com o mundo — nas nossas entregas, vínculos, decisões e afetos. Propósito não é meta, é presença. É o fio condutor que liga as partes da nossa existência e dá a elas um sentido único.


A psicanálise propõe esse movimento de integração. Ela nos convida a olhar para as contradições, os excessos, as repetições e as faltas — e a perceber que tudo isso faz parte da mesma história. Quando o sujeito começa a compreender sua própria narrativa, algo se reorganiza. A vida deixa de ser um campo dividido entre “quem eu sou no trabalho” e “quem eu sou em casa” e passa a ser um todo coerente, ainda que imperfeito. A autenticidade nasce justamente daí: do encontro entre o que se sente e o que se faz, entre o desejo e a ação.


Viver com propósito é reconhecer que o tempo todo estamos escrevendo uma única história. Que não há um roteiro para o sucesso e outro para a vida afetiva. Há apenas um caminho — o da consciência. E é nessa consciência que encontramos sentido, paz e verdade.

Porque, no fim das contas, tudo é vida. Tudo é história. E tudo o que fazemos — dentro e fora do trabalho — é apenas a continuação do mesmo enredo: o da nossa própria humanidade.


Se este texto tocou algo em você, talvez seja o momento de olhar com mais profundidade para a sua própria história.


A psicanálise é um convite ao autoconhecimento — um espaço para compreender suas repetições, seus sentidos e o propósito que costura todas as áreas da sua vida.


Inicie sua jornada de autoconhecimento e permita-se redescobrir a unidade de sua própria história.

Sua vida não precisa ser fragmentada; ela se manifesta inteira quando você aprende a ouvir e compreender cada parte de si mesmo.

 
 
 

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